sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Organismo

Nós éramos uma espécie de líquen. Indivisíveis. Atados à vida das genealogias. Nossas árvores por assim dizer. E que remédio? Pessoinhas feitas para o bom tom das continuidades. Éramos aquele laço bem dado, cego e surdo, que não cedia a ninguém, a nenhuma mão, nenhuma conversa de mau gosto. Comíamos – os dois – o mesmo tipo cruezas. Ela com opiáceos e flores bonitinhas. Eu à moda bárbara, em quantidade e ferozmente. Andávamos de mãos dadas e sutilezas e nossos olhares escondiam nosso horror às pobres almas que não haviam nunca encontrado uma história como a nossa. Até ai, tudo bem, nenhuma novidade. Mal sabíamos que o sabor dos ventos mudaria, que as árvores seriam comidas por pragas naturais e que um dia, nossa mutação evolutiva deixaria a simbiose à sorte de nossa escolha. Foi quando deixamos a natureza simples de alga e fungo e nos caiu soberbamente sobre as cabeças, o peso descomunal de nossa humanidade. J.M.N.

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