quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Quando toda a razão cabia nos vídeo games

Acontecia entre os estragos da casa. Ele se arremetia, sempre que o pouso indicava perigo. Ia aos carros forjados de sua imaginação, andar por ai entre Limoges e Malibu. Muito próprio ele era de ser julgado o agressor, o puto. Aquele que esfregava em suas caras, o que não suportavam. Era ele, sim. Ele o malfeitor de empregadas e adorador de mantras. A despeito de altas malícias, a casa cheirava a prosperidade. O odor enganoso da vitória. Havia alguém empurrando outro alguém goela abaixo constantemente. A loucura sempre arranja um jeito de procriar e vencer a normalidade. Não havia infortúnio pior que os abraços. Antes de mais, voltemos a ele, o inútil: sabes qual será teu fim, não é? Era isso que lhe impunham. A pergunta respondida pelo medo de ele vir a ser o que não coubesse no alhures de suas simpatias, de suas dulcíssimas invalidezes. Estes programas de hoje que repetem infinitamente que podemos. Autoajuda refrescante e idiota. Era ao que vinham uns aos outros. Ajudar-se a sentir, viver, destruir as vontades fundantes de todos. Ele esperava o almoço passar. As duas mais odiosas horas do dia. Todos à mesa, contando o que não puderam vencer. Calados e sorvendo o sal da carne de panela. Ele acometido de impossíveis. Quieto e ardente, trocando sinais com a menina da vez enquanto servia-se de arroz. Violador de normalidade era o que ele era. Ainda bem. E quando o ritual desimportante acabava ele sorria. E sempre que perguntavam, respondia ter-se lembrado de uma piada. Seu jogo perigoso começava. Um desafio no qual seu caráter se fundara. Quando aquilo passava e as brevidades da fome cessavam, viam-no rindo em frente aos seus jogos eletrônicos. Disperso vivente entre os sufragados. E quando insistiam em saber se ele estava bem – perigosíssimo ele atirava: acabei de perder duas vidas, e você? Aprendera desde muito cedo a dizer a verdade, acima de tudo. J.M.N.

Trilha sonora…

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