segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Exegese à moda de um canalha

Este ano já não trocamos mensagens de aniversário; as de boas festas possivelmente não chegarão. Teremos árvores de natal, felicidades. Cada um em seu canto. Ganharemos presentes e votos de um ano bom. Os que ofertam, não sabem das alianças escondidas – não esquecer. Daqui pra frente teremos, finalmente, duas vidas exclusivamente nossas. A de cada um, em seu tempo preciso. É uma merda dizer isso. Constatar. É tão odioso que não assines mais o meu jornal. Que todos por ai digam que sofres de exílio. Este ano já não lembrei direito do rosto dos teus pais, da estupidez do teu irmão. Não gravei mais nada em meu corpo. Fiquei pensando nos teus bichos enterrados no quintal. Às vezes, em meus romances escritos de maneira tão imprudente, registro que eu devia estar lá. Junto deles. Para que a terra me comesse. Morri exatamente em três de abril de dois mil e seis. Foi quando tive de vez a tal compreensão. Eu me encontrava preso, como o poeta que avista a Terra em uma fotografia. Vi meu mundo tão pequeno e impermeável naquele quarto da residência. Eu já estava acabado. Eu devia ter tido um enterro. Devia ser um defunto. E assim talvez, mas só talvez, não tivesse que comer a terra de tantos caminhos, sorrir dizendo que não me importo, seguir sentindo que já não tenho lugar entre os bons. É terrível que eu continue vivo. Entretanto, ainda tenho esses botões que premir, essas linhas a me socorrer. Posso confessar que vivi. Posso até te dizer muito obrigado por não confiar mais em mim. J.M.N.

2 comentários:

Anônimo disse...

Texto muito bom. Título corajoso...

Lia

Anônimo disse...

Carpinejar e sua definição de canalha - O canalha fala certo no tempo certo. Faz com que a mulher se descubra mais do que descobri-la.O canalha é generoso.
De fato um canalha com poesia é muito perigoso. Indomável.

Beijo meu poeta canalha!