segunda-feira, 19 de abril de 2010

Metade do que sinto

Litterae non entrant sine sanguine

De vez em quando sou simples. Escrevo coisas adoráveis sobre pessoas e perdões que nem foram meus. Tem dias de eu nascer novamente. Enfrentando os outros com se tudo fosse novo em folha. Desusado, para inventar. Acontece, também, de haver mil desejos que rosnam. Mil feras que não se libertam, mas existem. E tudo fica no peito. Um som constante. Ritmo de evitar matar e morrer por um beijo ou por um simples olhar de adeus. Às vezes acontece de eu esquecer quem sou. E nesse pântano de achados e perdidos encontro risos, benevolências e muita paciência perdida. Nesta hora sou dado a benesses. Fico de bem com todo mundo. Expande-se a serventia de meus abraços e fico meio acolhedor. Em outros dias, como hoje, simplesmente existe o rasgo. Uma fenda. Meu grito partido em dois, atirando em pólos cruzados minha vergonha e minhas vontades mais abissais. Num canto minha história esquecida e pouco sã. No outro, grifos e melancolias como que trituram a bondade que gostaria estivesse em mim. É como âncora procurando calço e quando se vê o navio está à deriva, mesmo com a intenção mantida. Mesmo com as providências tomadas. Hoje, e apenas hoje preciso como nunca do teu abraço. Que não me dá alento nem esperança. Que não esclarece mais do que confunde. Hoje eu queria o rumo incerto dos teus beijos. A perdição de teus pedidos. A mania de tuas escolhas. Apenas para olhar o sol de frente. Apenas para enfrentar estes leopardos. Hoje que tudo ao me tocar rasga e desembesta, queria saber ao menos onde despejar meus sentidos e minha carcaça, pois metade do que sinto já é um amor inteiro. J.M.N.

3 comentários:

Anônimo disse...

Lindíssimo este texto.
Queria saber o que diz a frase em latim?

B.V.

Anônimo disse...

Realmente é lindo d+.

Anônimo disse...

Tuas palavras calham de lembrar camilo castelo Branco e sua adoração pela descrição do amor urgente.
Faz-me lembrar que noutro canto, quando menos se espera, acontece de encontrarmos semelhantes.

Muito bom teu blog.

Júlia
Lisboa