quarta-feira, 28 de abril de 2010

Lírica desde a latitude dormente (ou “Pernocas”)

Antes mesmo de te conhecer vinha praticando tua existência aguda em minhas veias. Transitavas como um sangue espesso e inábil que pouco conduz nutrientes e esmeros, mas força toda a conjuntura orgânica a se refazer constantemente. Não te devotas a nada. Não acresces minha quietude com nenhum vintém. E como te espero sempre no balcão sob a lua, não sei. Uma entrega que inviabiliza a porta entre os gêneros de nossa espécie. Que combina sem distinção nossas analogias e enfermidades. O amor que sinto não é deste mundo, ademais. Não conhece o espectro fácil das visões naturais. É um amor de palma de mão. Único e riscado em linhas previsíveis, mas incontável, como angstroms a olho nu. Salta-me do desespero infiel de minhas noites. Assalta meu sono e troca conhecimentos por incertezas. Estou pronto para tudo quanto teu. Estou aberto para quanta adoração te der vontade. Cabe em mim a ilusão do infinito quando relembro e quando esforço-me em teu ventre a saciar-te, eclodem as mais eufóricas galáxias, os mais enormes continentes. Por ti lutaria as guerras de monarcas e tiranos. Guardaria a paz nos templos remotos do fim do mundo. Tua voz aspergia em mim uma santidade humana e finita, como poucas coisas que cabem em feitos de amor. Mas foi a tua ausência. Foi a distância do que não cresceu e superou os dias entre nós, que me mostrou de fato o quanto ainda estou devendo a nossa estada. O quanto ainda conténs de mim em teu silêncio. Como não sei se escutarias minhas batidas em tua porta, arrisco voltar no tempo, e na quietude do mar de sorte dos nossos sonhos, peço para que fiques apenas mais um instante. J.M.N.

Estava ouvindo isso quando escrevi este texto...

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