quinta-feira, 8 de abril de 2010

Rocks and drágeas – as perguntas que nunca faria se fosse normal

"…a interpretação não prova coisa alguma,
ela apenas cria condições para que surja o sentido"

Fábio Hermann - A psique e o eu, HePsyché, 1999, p. 15.


O mundo agora chega até mim mais lento. Pastoso até. Com cheiros reconhecíveis e tempos e movimentos que antes eu achava ser impossíveis. Entra e atravessa as barreiras desconcertantes de uma entrega sempre antecipada, constante, viciada em velocidades terminais e aliciantes. O mundo entra em mim pelos portões de meus sentidos biológicos, atravessa a barca das idéias e completa faltas que outrora eu apenas acreditava serem de outrem. As cores, os sons, as melodias delicadíssimas de finais de tardes acontecem espetacularmente diante de meus olhos. Como deveria ser complemento de mais um dia de trabalho e descoberta, invés de calma isso me dá receio. E a única dúvida, a única questão que me trucida (e talvez a única que valha à pena ser respondida), passa pelo prisma e multiplica: é assim que será para sempre? – Onde estão as escarpas de pedra? Os prados infinitos onde meus desejos corriam soltos? Cadê a menina que me detinha com sua brasa de quietude familiar e não encontrava jeito de saber como eu a amava? Cadê meus pais odiados e meu irmão detido nas impossibilidades de adoração e estima? Cadê meu chão? Afinal, tenho umas quantas coisas diluídas na presença estável de meus neurotransmissores, indivíduos que nasceram comigo, mas que, por mim, morreriam à deriva da fisiologia integrada e sentidamente – normal. Eu apenas acho que em breve terei de decidir se quero ser eu ou uma cópia manchada dos medos e desistências que tanto detesto. J.M.N.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito duro e forte. impressionante como dá para se reconhecer nisso.