domingo, 4 de abril de 2010

Inveja competente

Ao homem do barro. Escultor de muitos novos sentimentos em minha pena.

Ele não sabia o que causara. Não pressentiu que aquele abraço, visto de longe foi como um choque. Uma reentrada na atmosfera do planeta. Quente e perigoso como todas as vezes. Ele não separou um sorriso especial, não deu conta de todos os olhos que se admiravam da cena. Ele não usou seu humor ferino para sangrar aquela pessoa que se aproximara tanto. A poucos metros alguém interceptava seu brilho e invejava aquele gesto eloqüente e preciso que o fez tão grande quanto o sol. Quem o enxergava naquele momento podia sentir que ele não acreditava ser merecedor dos tais afetos, das tais palavras. De maneira infantil estava sendo admirado, mas sem a devida profundidade. Um tempo depois veio a confissão. A alegria por se ter visto fazer mais um escritor. Um admirável escritor. Nascido no coração das palavras de um homem sem membros de uma senhora de fala infinita, com irmãos multiplicáveis que lhe devem um sem fim de explicações, mas amam. Este homem que tanto faz jus à sua entidade é muito próximo de mim, cuja fortuita atividade de escrever encontra-se à sua disposição. Este homem a quem chamo de irmão, restaurou em mim, naquela noite, a liberdade de invejar sorrindo, desejando, antes de tudo, estar no mesmo mundo das criaturas mais colossais, como ele próprio. J.M.N.

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