quarta-feira, 21 de abril de 2010

De possibilidades se vive

Poderíamos ter passado tardes inteiras em cadeiras de balanço, sendo um do outro enquanto nosso passado rangia devagar, sem nos incomodar. Eu poderia ter te dado meu nome pra colocares no teu, o meu peito como extensão dos teus sonhos, o meu ouvido como fim das tuas feridas. Olho pros órfãos que esperam no Haiti, pros gemidos saídos dos destroços do Chile, pra nuvem negra sobre a Islândia e penso quantas vezes esse planeta ainda terá forças pra contornar o sol. Quantas voltas ainda serão necessárias até nos vermos algo além de uma utopia, de uma impossibilidade sistematicamente negada.

Se esse dia chegar prometo que não deixarei o assombro matutino com o negro dos teus cabelos sobre o branco redondo do teu ombro. Da varanda veremos as roseiras crescerem enquanto me contas as histórias do teu avô, e me dizes como o meu calor parece com o calor dele. Eu seria a tua redenção, tu serias a minha purificação. Teríamos um pelo outro um desvelo tão abnegado que não haveria manhãs sem o cheiro do teu café, sem o cheiro de terra nas minhas botas. Cuidarás do meu frio e do oxigênio que me faltar à noite. Serei o teu sono, nas noites que ele não vier. Quando estiver longe, a distância será emprenhada de passagens da Adélia e do Pessoa, lidas num telefone de não caber de saudade. Cumpriremos as promessas que não fizemos quando, com o rio às minhas costas, vi o quanto precisavas da minha presença e quanto ficavas linda com a margem reluzindo nos teus olhos. Direi assim: que tenho fome de ti, e que falta fazes nos lugares onde não estás.WDC

Um comentário:

Anônimo disse...

isso me fez pensar mais no nosso planeta até aonde vamos parar...