sexta-feira, 6 de junho de 2008

Numa serenata, talvez

Por que tantas coisas se desgovernam? Por que o tempo se redobra e faz curvas improváveis nas nossas vidas? Por que olhar pela janela se torna penoso quando sabemos que a menina de tranças longas já não passará pela rua para deixar a tarde justificada e a existência um pouco mais íntima, mais impressionante? Por que as naus e ilhas dos livros de aventura, não se cruzam nos pátios do colégio, quando os amores inauguram dores mais agudas e quando parece que todas as viagens, são viagens de perdição? Por que, naqueles anos longínquos, não te disse as pequenas verdades que estavam tão à medida dos nossos quereres e poderes? Por que não tomamos o mesmo ônibus, dia após dia, percorrendo caminhos recém descobertos e melhor, parecidos? Como se ajusta os ponteiros do relógio implacável da vida? Como sabotar os sorrisos mais livres e os vincos cada vez mais comuns, os avessos profundos das nossas peles amadurecidas? Devemos esperar que as esquinas se realinhem e que nos encontremos íntimos num bar qualquer, como se tivéssemos passado a tarde anterior revivendo as lembranças que nunca foram nossas, mas tornaram-se comuns, num tempo outro que não esse que nos endivida? Responde! Faz isso fazer sentido! Nem que seja forçado, escreve-me teorias para explicar esses amanheceres afoitos que não se percebem dias, até que tenhas aparecido e feito meu dentro explodir feliz. Talvez assim, revele-se um rumo qualquer. Talvez teus saberes de andaime nos ergam aos topos dos arranha-céus e tornem inteiras, as frações dos nossos tempos distantes. Talvez eu descubra cantigas e te oferte uma serenata, numa janela distante desse esquadro mudo onde não posso te cantar tudo aquilo que deverias ouvir. Não pelas cantigas, não por romance barato, mas por amor mesmo. J.M.N

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