sexta-feira, 6 de junho de 2008

Não cometa a gafe de morrer sem escutar 7

 
Agostinhos dos Santos

Muitas vezes ao lembrar de uma bela canção, aquilo que dá substância à memória é a letra ou a melodia. Neste caso em especial, posso dizer que qualquer uma das músicas que ouvi na voz de Agostinho dos Santos são belas canções, pois sua voz garante a limpeza dos acordes a profundidade da letra e texturiza o ambiente em que nos encontramos com o sublime, com o belo.

Dolores Duran compôs a Noite do meu bem e Agostinho interpretou-a magistralmente. É indiscutivelmente terno escutá-lo soletrando sua emoção nos tons mais altos da melodia, ápice que acompanha versos como quero, a alegria de barcos voltando/ quero ternura de mãos se encontrando/ para enfeitar a noite do meu bem.

E ele ainda interpretou Manhã de carnaval de Tom Jobim e Vinícius de Moraes no filme Orfeu do Carnaval de Marcel Camus, que conta, também, com a fantástica interpretação de Felicidade com Tom ao piano. Não bastasse estas referências, Agostinho gravou Serenata Suburbana, Por quem chora Ana Maria, Dindi, Estrada do Sol e tantas outras pérolas do repertório nacional.

Faleceu num desastre de avião em Paris, ainda muito novo, privando ao menos a geração seguinte de conviver com sua voz encorpada e sua presença nas rádios nacionais. O pior é que pouco se escuta falar de sua voz, de seu sucesso e, de certo, falta sua presença em tantas referências musicais, mesmo dos mais carolas.

Não disco que seja melhor, não há tempo inglório para esta voz calada tão cedo. Como sempre costumaos frisar aqui, este não é um estudo sobre a qualidade da voz de Agostinho. Não. É apenas a constatação de que sua interpretação merece ser conhecida, por esta e por outras gerações. J.M.N

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