segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Ela atirava em mim

Sobre a música Bang, bang, Nancy Sinatra.

Lembra do tempo em que brincávamos? De quando levávamos às últimas consequências nossos jogos a dois? Era um tempo em que as balas eram de festim e o rito mais repetido era a entrega imediata, com foices e cravos brancos ao redor da cama, onde toda a estrutura da vida e de nossos corpos cruzava oceanos e vencia tudo. A música tocava e sentíamos os sinos distantes se aproximando, fazendo catedrais em nosso parapeito. E seguiam-se Sanhaços, Cravinas e Gaturamos nos páramos de nosso descanso, ecoando apenas para nosso deleite e preguiça. Ganhávamos peso, perdíamos os dias, contávamos as horas ao contrário, como passageiros do tempo, como as lesmas e seu arrastar eterno, soçobrando por sobre toda a história do mundo. E fomos à Marte, Inglaterra e faltamos às visitas de finados na onda de nos celebrarmos. Vivos, acima de tudo, um no outro. Costumávamos correr junto, pois junto era o ritmo de nossos pulmões. E perdíamos tudo e ganhávamos vento e frescor de auroras e abraços idílicos. Como sempre a porta abria, fechava e lá estávamos acometidos pela febre. Ilustres impostores na convenção das verdades de artifício, no sacrifício dos tolos que sustentam papéis e não os romances. Você costumava atirar de perto, eu de longe. Era uma guerra feita de estridente entrega e se acabou sem territórios conquistados, sem honrarias e medalhas. Acabou no campo da diplomacia, com ameaças veladas. Costumávamos atirar um no outro, mas sempre vivemos para contar histórias. É exatamente por isso, que tenho tanto o que lembrar e esquecer. J.M.N

Para ler escutando...

4 comentários:

Anônimo disse...

Que bom que temos os teus textos paraler.Liricos,intensos,apaixonados,góticos até,e sempre poéticos.






abraços,

Hellem.

PalavraMundo Consultoria Ltda disse...

Palavras certeiras. Para navegarmos nas emoções que também são nossas. Tu és um verdadeiro poeta da prosa.
Beijos
Ana
Salvador, ouvindo Betão ao Violão...

José Mattos disse...

Cláudia e Betão,

Eta saudade arretada de vocês. Equeles momentos em Abaeté não me saem nunca da cabeça. Vontade imensa de cumprir nossa promessa de sentarmos os três numa praia qualquer de Salvador e esgarçar com prosa e canto tudo o que mais nos oprime de cansa.

Ainda quero encontrá-los por ai.

Saudades,

J.Mattos

Anônimo disse...

Cara,

Fodaço esse jeito de dizer as coisas. A companhia das músicas dá um tom de filme antigo, sei lá.

Muito bom mesmo.

Abs,

Bruno