No fundo, ao escrever, Toxic Girl do Kings of Convenience.
Deu nisso.
Nenhum resíduo em meu despertar, mas minha boca ainda tenta se acertar. Nenhum gosto está como antes. Nenhuma veia está intacta e por muitos meses eu senti o âmbar de sua desumanidade afetar a passagem dos meus nutrientes, como pedestres chocando-se nas ruas estreitas do centro de uma grande cidade. O contorcionismo exibido de suas partes a me tragar para dentro de suas rotas, horas depois me enjaulando ainda sedento, como um animal aturdido, encurralado. Meus brônquios se partiram. Meus feixes nervosos, bainhas de mielina e faculdades de somar e multiplicar diminuíram. Consideravelmente. Roto nos becos. Pedindo tragos dos alheios rostos. Abraços das senhoras felizes de cada praça por onde andei. Um farrapo de longe acometido pelas náuseas e impedido pelo muro altíssimo da verdade. E apesar de tantas feridas e jejuns, ela me trouxe ao caminho. Sem saber me tirou do limbo de mim mesmo. Arrastou-me com sua colossal disposição para tudo do terreno em que finquei meus alicerces. E me fez mudar radicalmente de atitude, desenvoltura adquirida para continuar vivendo. Nenhum exame acusa sua existência e meu sistema já quase se esquece de que lá esteve. É justo ai, nesta hora de reconhecida vitória sobre seus efeitos mais daninhos, que a encontro nos ornatos de minhas linhas, nos cantos de minhas páginas, refeita em pó e harmonia. Até quando a memória celular que me redime, venha cobrar a gestação de outra loucura. J.M.N
Para ler escutando, ou não (letra)...
3 comentários:
Belíssimo texto!Adorei.
Um comentário quase on-line. Isso é bem raro.
Valeu.
J.Mattos
Não consegui ouvir a música :(...
Mas o texto é muito bonito.
Ju.
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