segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O que ficou

Eles passaram pela porta e deixaram velhos remendos meus recosturados, fortalecidos. Lá no fundo, não se foram. Sou deles como festas em família, avelãs em tortas doces, camicazes em atos desesperados e afins. Eu vi a mesa arrumada sem a permissão e senti nisso que nos pertencemos, como o que nunca senti com povo nenhum. Eles vêm de Algures (indizível lugar com A maiúsculo), flanando, eternos andarilhos do tempo secreto como tudo o que mais amo. Não precisam pedir para entrar, entram. Não precisam pedir para ocupar minha cama, ocupam. Não precisam, ademais, pedir desculpas por qualquer engano, pois mesmo quando há tropeços, existe amor. Eles adormeceram bem ao lado e dava para respeirar seus sonos enquanto eu ia me consumando num corpo cansado. E dava para sentir a leveza de nossa história fazendo inveja ao mais leve dos elementos. O amanhecer foi mais que feliz. Foi casto nos sentidos únicos que eles me fazer ter. Sim, eles cruzaram a porta e viajaram, mas seus cheiros e olhares e dizeres ficaram. E ficaram no lugar onde não se precisa de chaves ou passagens secretas. Ficaram dentro do meu amor mais imenso. J.M.N

4 comentários:

Wagner Dias Caldeira disse...

Sabes a química da minha fúria e de minhas lágrimas. Nenhuma novidade nisso. Como não há novidades no que te trazemos quando dormimos na tua cama, pois sabemos que a parede que separa nós três de ti trata-se de mais um capricho social e arquitônico. Gito, como se diz, diante do laço imenso que fez de ti, mais um de nós.

Anônimo disse...

Falas bem do que ficou com teu mais secreto sentido, aquele que só mesmo o amor que o fundamenta também denuncia. Mas fique você sabendo que, aqueles que vão, deixando seus rastros de chicletes mascados, panos amassados e cuí de pão, levam um tantão consigo: significados enobrecidos dentro da alma, trocas de risos marotos vistos nos rostos, gargalhadas na memória e, no peito, corações que se estendem a cada encontro, dando-nos a certeza de como é bom viver. Nessa partida, que se repete, o tempo nos embala e conforta com a espera da volta, fazendo do que era apenas nós, algo mais que três. (DINA)

José Mattos disse...

Confirmando: vocês são essenciais.

J.Mattos

Anônimo disse...

Belíssimo texto.

Bruno