quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O que não guardo

Eu não guardo tua coisa qualquer. Não ficaram discos, camafeus, roupas de festa. Nenhuma porcelana fina ou guardanapos de linho;
Eu não guardo tua uma telepatia sequer, um convite para chegar mais cedo em casa e viver todo restante da vida num único beijo de amor;
Eu não guardo teu um relógio com nosso tempo, nossos horários. Não guardo nem telefonema de boa noite, nem boa sorte no novo emprego;
Eu não guardo teu nenhum cobalto, elemento de radiação intensa que dura séculos. Nenhuma linha imaginária que me mostrará o caminho de volta aos teus braços;
Eu não guardo teu nenhum cabelo branco, nenhum resultado de exame. Não guardo a cura do teu silêncio ou do teu vício de demorar para sair;
Eu não guardo teu nenhum rompante. Nenhuma travessia de oceano e surpresa de chegar para tomar teu espaço. Não guardo o calor dos sonhos em camas deitadas no meio do frio intenso;
Eu não guardo teu nenhum lugar secreto, nenhum cansaço mais. Não retiro o que duramente disse com plumas em teus ouvidos e fome e fúria sobre teu corpo;
E mesmo assim amor, sinto-me tão bem guardado nestas lembranças que é como se tudo quanto não deixaste, já fosse meu a vida inteira. J.M.N.

Um comentário:

Anônimo disse...

Lindo isso!