Mirava Longe um enfeite no céu. Uma nuvem que tinha forma de sorriso. Suas memórias elevadas em arquétipos celestes. E ela. Existindo ainda no barro de suas roupas. Agregada como um resíduo, como uma segunda pele indesejável, mas persistente.
Era como se o trabalho cada vez mais crescente lhe enchesse de energia. Multiplicava-se. Ia e vinha das lembranças a cada tijolo preso, a cada punhado de massa misturada. A vida sendo reconstruída. Suas mãos ásperas e a pele moldada em sulcos pelo sol daquele lugar.
Quando a noite chegou e não havia mais nenhuma nuvem sorrindo no céu, lavou o sujo do corpo no pequeno banheiro improvisado do canteiro de obras e a cada enxaguada tirava mais uma de suas dores. Veio um presságio. Sorriu e acabou o banho. Sabia que dali em diante, era só esperar pelo dia seguinte e se não houvesse alegria no céu, riria com os amigos de trabalho a certeza de alguém estaria abrigado sob um dos tetos que construíra. J.M.N.
Nenhum comentário:
Postar um comentário