sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A indiferença provoca guerras

O som do vale explodindo é indisfarçável agora. E eles que diziam ser apenas animosidade entre antigos vizinhos. Culturas de mesma raiz e crenças. Era um silêncio falso, de espreita e armadilha. Continuo escrevendo de meu bunker, esperando a redenção ou o cansaço. Cheiro de pólvora e ácido e corpos por toda a parte. No canto de meu refúgio, uma rosa. A beleza sobrevive dentro do caos e apenas ela é capaz disso. Não fosse por aquela pequena porção de vermelho, já tinha renunciado à resistência. No final das contas todo bem nasce dentro de quem o vê. De quem tem um canto que mesmo cinza é capaz de abrigar uma flor. Saber-se amado e não possuído. A noite corre lá fora. Estou prestes a ouvir as sirenes. Alertas para que saiamos das ruas e escondamos o amor rasgado pela vida. Eu me recuso. Preservo a vida para retornar e gritar aos ventos que vale à pena. Por mim teria apertado a mão de meu inimigo caso fosse possível ver sua face, caso não soubesse de um espelho que às vezes o inimigo sou eu. Ou apenas o teria chamado para uma conversa. Afinal, antes de as circunstâncias dizerem o que seríamos não atentava para o fato de ele me ser perigoso. E, de seu lado, provavelmente ele também não me via assim. Todos lavraram os autos. Ademais, detonamos bombas e disparamos as armas de ambos os lados. A primeira baixa sempre será a verdade. Dos que invadem por não terem muito tempo para efetuar seus saques. Dos invadidos por não saberem se defendem sua casa ou conquistam a do inimigo. As intenções derivam. A rosa que me traz a pergunta sobre minhas saudades ainda está lá. Mais uma bomba explodiu. E de repente me deu uma saudade de quando ainda nem sabia que tinha um inimigo, de quando poderia ter feito amor em sua cama, mas preferi deixar para depois as perguntas que realmente importam. Sinto falta de não ter sido eu desde o começo, de ter deixado a xucros e inconstantes, a chance de me soprarem suas verdades, alvo exposto à indiferença daqueles que pensam não ter pares. J.M.N.

2 comentários:

Anônimo disse...

Querido amigo,

Fico me perguntando como consegues te expor tanto. Não acreditava que dirias isso assim de público.

Lindo texto. Lindo dentro esse teu.

Tereza.

Anônimo disse...

"A primeira baixa sempre será a verdade. Dos que invadem por não terem muito tempo para efetuar seus saques. Dos invadidos por não saberem se defendem sua casa ou conquistam a do inimigo."

Também não podia deixar de destacar que estas palavras são *#@%... Mais um tiro certeiro. E viva sua liberdade!

Beijo,

M.