terça-feira, 17 de agosto de 2010

Batismo

Nessa nossa andada, irmão, já tropeçamos em troncos, pedras, distâncias. Nossos próprios pés. O adobe de nossas moradas trouxemos dos quintais dos teus dois manuéis. O Lúcio ainda tinha aquele sítio com pomares de onde roubávamos o azedo das carambolas. Amanheci dourado pelo mormaço da tua letra e tu velastes os meus dias de caramujo. Isso nos fez pertencer como se pertencem os desencostados da razão. Construímos essa puxada de desabrigos que bordeja nossos relentos mais antigos. Por eles inventamos amores reais, irmãozinho. Por eles o nosso batismo sem empetecamentos nem roupas de domingo escorreu no entre pedregulhos e guiados pelas mãos de nossa madrinha. Palavras iam e vinham sob nossas cabeças. Um abraço de um inaugurou os dois. Veio-me de súbito aquele setembro em que te dei um poema onde descobristes ametistas afundadas. Faz tempo que estamos por aí forjando risos e esmorecimentos alheios, irmão. Lavrando silêncios em pastos ressequidos de poesia. Apesar de tudo, nunca abandonamos a candura de sonhar um dia dividir a mesma varanda, relampejada de tosses e histórias recontadas. WDC

Um comentário:

José Mattos disse...

Olha nós conversano com a mesma solidão de novo!

J.Mattos