segunda-feira, 28 de julho de 2008

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Hoje senti saudades das suas costas. Tomei um banho longo e abandonado. Não havia intensão de limpeza apenas, muito antes a de esquecimento. Mas este não veio. Não desceu por meu corpo molhado. Não encontrou o caminho do ralo. Ao contrário. Valeu-me o tempo da espera. A mistura de lágrimas e banho, o cheiro antiséptico do sabonete de que você tanto gostava, tudo convergiu para os minutos eternos em que você se dispunha a dividir as águas comigo. Seus pulos de frio. A hesitação em molhar os cabelos, seus olhos fechados quando minhas mãos lhe tocavam molhadas. Os sons engraçados que seus movimentos produziam em partes específicas do seu belo corpo. Tudo me lembrou de você. Queria que me escutasse ao menos uma vez. Que lembrasse de Vinicius a cantar Tomara e de mim a cantar tantas coisas antes do seu sono. Queria que soubesse que tudo não passou de um engano. Que seus espiões estavam errados. Tomei o mais longo dos banhos num dos mais longos dias dessa existência depois de nós. Precisei como nunca de suas mãos me enxugando. Não era para ser outro cuidado. Era para ser o seu cuidado. Aquele que me fez reviver, que me fez atravessar o mar de esquecimento em que me perdi ao longo dos anos. Minha pele limpa da poeira do mundo e minha alma ainda clamando pela limpeza do destino. Talvez eu consiga. Talvez eu continue procurando. Meus afazeres diários não são mais os mesmos. Tento desfazer essas marcas, mas a água que lhe atiçava o aconchego não dá sequer para acalmar o insuportável calor que minha solidão produz. J.M.N

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