sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O guardador de águas

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Sempre que estou obscuro, procuro Manoel de Barros. Este seu pequeno guardador de água é especialmente recomendado para aqueles dias em que estamos mais "atraídos pelas doenças das coisas que por suas belezas". Aqueles dias em que cabe benzinho dizer para o espelho: É homem proposto ao escárnio.

Manoel de Barros coisifica sentimentos ermos e sentimentaliza coisas inúteis como pregos e latas fazendo-nos crer que a língua na qual escreve não é a mesma nossa língua-mãe. Tão essenciais como o vento e o canto dos passarinhos, suas palavras atestam seu destempero com o mundo.

Mas este destempero não é desgosto, como no popular mexerico, não! É coisa santa de segredos de relva, casas que que falam de suas assombrações e Bernardo... Ah! Bernardo, o tolo da estrada.

Guardando águas, falando sobre as grandezas do ínfimo ou tratando do nada, Manoel nos inspira a reconhecer a tez primitiva de nossa história pessoal e a nos atar às coisas da terra e do ar como sendo as peles necessárias à proteção dos sonhos e ao entardecer de nossas angústias mais infantis.

Ainda bem que Manoel existe e nos diz clara e corajosamente sobre o seu guardador de águas: Um livro o ensinou a não saber nada - agora já sabe. J.M.N

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