sexta-feira, 23 de maio de 2008

Templo

                                                   Templo de Debod - Madri por JMN

Há lugares para nascer e morrer. Há lugares para viver um grande amor. Há lugares que escondem segredos e outros que os revelam. Há cores que só servem quando te vejo. Há doenças que só curam quando passas. Há músicas escolhidas para o bem e outras tantas para acalentar sonhos e esquecimentos. Há cristais que estilhaçam com o ruído do vento e outros que guardam melhor os melhores vinhos. Há mordaças demais em minha alma e a certeza de que estive preso em algum lugar do caminho. Há chão para os meus passos e histórias de antanho para minhas retinas. Há visões e estranhamentos. Ela chegando com café e pão, dizendo que minha tarde estava no fim, que era hora do banho. Há cuidados que nunca dissipam e toques e amores e despudores insanos. Há gente demais escrevendo essas linhas. Na escuridão do lago há uma imagem muito antiga e o sol teimando em definí-la sozinho. Não fosse eu olhando para os lados, para cima, para baixo, estaria aquela imagem confinada. Há cidades que me habitam, ruas que me percorrem. Há mais de mim pelos caminhos que nem sei se posso voltar. Há maldade e um certo charme nos beijos de ontem. Há minhas mãos na tua linha da cintura. Meus troféus são telas e riscos em tinta antiga. Meu coração é como um alvo para treino. Queria dizer que não há mais nada. Que outrora as manhãs eram malditas, mas não posso, pois meu diário denuncia. Estás em minhas páginas. Guardada sem nome e apareces por insistência da luz momentânea do folhear daquelas páginas. Há nome para isso. Há silêncios demais na minha euforia. Um dia saberás a que renuncio e entenderás mais ainda por que fugi. J.M.N

4 comentários:

Wagner Dias Caldeira disse...

Foto bem enquadrada, pegou um ângulo correto da luz. Resumindo: boazinha. :D

Drica disse...

A auxiliar do fotógrafo era muito eficiente. ;)

Wagner Dias Caldeira disse...

Tô desconfiando que a auxiliar fez todo o trabalho.

Ana Clara disse...

"Havia certas janelas de canto, ou arcos de portões ou lampiões, que sabiam muita coisa da gente, e nos ameaçavam com isso. [...] Cresceu em mim a suspeita de que nenhuma dessas influências e relações estivesse realmente dominada. Um dia eu as havia deixado secretamente, incompletas como estavam. Logo, também a infância de certo modo ainda podia ser realizada, se eu não a quisesse dar por definitivamente perdida." (Rainer Maria Rilke, em "Cadernos de Malte Laurids Brigge")

Tanto que somos lembranças que não as deixamos adormecer, como o sol que insiste em revelar a imagem do fundo do lago escuro.
Teus escritos reverberam demais em mim! Beijos, beijos!