sexta-feira, 23 de maio de 2008

O que me és

Sinto tua falta. Apenas isso. Sem angústia, sem sofrimento, sem contar de horas. Sinto tua falta pura e simplesmente. Há que dizer que és necessária. É preciso que entendas que não o digo da boca para fora, como quando pedimos uma rosa para reconciliarmo-nos com alguém pela enésima vez. Sinto falta de tudo em ti. Dos teus cabelos. Dos mil trezentos e quarenta e dois sorrisos que és capaz de produzir numa fração de segundos. Sinto falta de teus braços esticados a esperar por mim. E mais que tudo, sinto falta dos teus olhos. De tuas piscinas para nadar, para me perder sem medo olhando o céu ensolarado de agosto. Sinto falta do teu impagável senso de humor e da forma como mastigas as palavras e defines a ode dos teus pertencimentos de maneira tão viva e loqüaz. És para mim como a Gradiva de Jansen, como Lisístrata a impedir guerras com a suspensão das fomes de amor, como Antígona a me conduzir cego para além dos portões de Tebas, para nunca mais voltar. Queria apenas que soubesses. Queria apenas que sentisses o cheiro dessas coisas simples e divinas que surgem todas as vezes que eu penso em ti. És como uma tela. Minha janela para o mundo. És de tudo um pouco. Minhas entranhas, minha pele, minhas cicatrizes. És mais que orgânica, intangível, ectoplásmica; mimese de minhas tantas outras existências. És o que sou e por isso te agradeço, pois tornas essa impostura presente mais suportável e por muitas vezes, faz-me crer que o que tenho por dentro é plausível, desejável e razoavelmente humano. J.M.N

Um comentário:

Anônimo disse...

Meu querido,
Enxergar pelo avesso e conseguir dizer tudo o que eu gostaria de dizer quando penso e me encontro com você, é algo que me encanta. Até hoje, o meu poeta, especulador de entranhas femininas era o Chico Buarque. E você, suavemente o supera, com verve, raça, aconchego, sensibilidade e graça.
Lindo, lindo, lindo.
Amei!
S.B.