Eu rogo Odisséias para voltar ao mundo,
O que fomos antes de toda essa orgia e decrepitude.
E te saúdo, brilho vulgar da bala do tempo,
Atirada contra meu peito que ainda dói de tanto amar.
Esse verbo sem ossatura que me arquiteta e respalda,
Como a escritura da terra do lavrador de alimentos.
Eu te consumo no clarão da dúvida
E espicaço a promessa de ser tua unicamente.
Dou-me aos mil homens do estádio em fúria,
Torcedores túrgidos de um domingo à tarde.
Era para ser óbvia minha canção de entrega,
E, no entanto, não soubeste decifrá-la, e nos perdemos.
Mas ainda te saúdo, homem de agora,
Pequena e masculina figura que não tem membros,
Que resmunga da minha dose de bebida
E reclama do pouco pano que me cobre.
Tu és a voz que se deteve quando eu cantei,
Devotas-te ao abandono só para me ter por perto
E abraças o irreparável da loucura.
Sou o ex-voto da tua paixão de menino,
A robustez do golpe que te arrancou a compostura.
Sou essa instância da humanidade que te trucida,
Reflexo cristalino da tua impostura.
Cantídio
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