quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Fêmea

Eu rogo Odisséias para voltar ao mundo,

O que fomos antes de toda essa orgia e decrepitude.

E te saúdo, brilho vulgar da bala do tempo,

Atirada contra meu peito que ainda dói de tanto amar.


Esse verbo sem ossatura que me arquiteta e respalda,

Como a escritura da terra do lavrador de alimentos.

Eu te consumo no clarão da dúvida

E espicaço a promessa de ser tua unicamente.


Dou-me aos mil homens do estádio em fúria,

Torcedores túrgidos de um domingo à tarde.

Era para ser óbvia minha canção de entrega,

E, no entanto, não soubeste decifrá-la, e nos perdemos.


Mas ainda te saúdo, homem de agora,

Pequena e masculina figura que não tem membros,

Que resmunga da minha dose de bebida

E reclama do pouco pano que me cobre.


Tu és a voz que se deteve quando eu cantei,

Devotas-te ao abandono só para me ter por perto

E abraças o irreparável da loucura.


Sou o ex-voto da tua paixão de menino,

A robustez do golpe que te arrancou a compostura.

Sou essa instância da humanidade que te trucida,

Reflexo cristalino da tua impostura.


Cantídio

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