O imenso abismo onde os medos se aquilatam, as distâncias se expandem e qualquer barulho ou vento se tornam presságios, monstros, assobios da morte. Aqui, deitado na cama, aborrecido pela distância entre o que fui e o que perdi de mim mesmo, reflito a séria condição do réu, culpado por não ter chorado quando da morte de sua mãe. O tiro, o sangue e até o motivo nada importam. Foi a falta de choro, a catapulta do dolo. Foi a perda anestesiada pela distância que forjou o assassino. Assim como foram as ideias mortas que pesaram na mão do carrasco, a falta dos pais que isolaram a alma. Um por um dos motivos povoam os olhos tristes de quem está deitado aqui. Meu corpo sabe. Eu sei. As canções e madrigais todos espelham. São os cânones do abandono, a lua triste. A cama enorme sem corpo que aqueça e a saudade visceral do que nunca houve. Minha derrota neste exato momento é a memória milímétrica do fim. Nosso fim. Nem trágico, nem feliz. Aplainado em covardias e nuances. As músicas de Noel e os sambas de Batatinha. Sempre tanta tristeza. Ó sono invertebrado em sem juízo, chegue logo e vomite teu breve esquecimento que eu preciso afastar a ideia de um novo dia e estar na eternidade do sonho por mais que dois ou três soluços. Venha e quebre os portões do umbral, verás que nesse não lugar eu posso sorrir, posso cantar em notas gregas e até dizer que sou feliz. Dá-me esse infinito de loucura e doação dos que descansam. Ainda que por uma noite. Ainda que o meio do deserto. JMN.
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