segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Nau ao mar, o mal amar

Para tudo que se foi e, hoje, anos depois,
finalmente terminou em mim.

Jactante passado de lugares. Entre felicidade e captura tratava-me o núcleo de ser por “pássaro”. Pássaro azul que sempre volta, dizia. Domesticado nas suas próprias destrezas de fuga. E de quanto serviu minha promessa já que nunca mudaste o rumo? Já que nunca deixaste teu plano retilíneo e desdenhoso do outro?

Canto agora essa velha canção navegante. Aprendida nas terras de Herculano, Pessoa, de tantos, afinal, meus antecessores na arte de nunca partir, mas prosear com a língua o ultraje de se sentirem ridículos em seus afazeres. Meus pares, por assim dizer. Em cujas gaiolas, seus artefatos somaram-se ao tempo.

Antevejo a terra do barril fincado no mastro. Estou muito além. És mais um passado bonito a rastrear minhas palavras, nada mais. E agora que ao Cabo já contornei, não espero por nada. Nenhuma lágrima tua ou dos teus. Todos eles, paisagens estáticas desde as águas que me esperam. Soube que morreram dia desses. Que descansem em paz. E mais, dentro de ti.

Quando morri por saber que não irias me encontrar, um anjo daqueles especiais para os nascimentos sublimes da humanidade me percorreu. E curou minhas chagas. Meu desespero de estar só. Sempre a voltar por nada. Muito menos do que meu dentro poderia. E disse ele, cuidadoso e fiel ao Pai: deixa o vento, ele saberá para onde levar tua caravela.

Me guio nisso. Com um pouco mais de espírito, creio, logo logo acenarei a desconhecidos em nova terra. Se me convidarem a ficar, direi que sim. Mas sem deixar de avisar-lhes que o mar e seus extremos, são casas de além dos anjos e guardam menos exílios do que se imagina. J.M.N.

Um comentário:

Anônimo disse...

Desejo de novos ares, sabores... viver, aventura obrigatória!