segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Farwell

Recuso-me a acreditar que não aconteceu. Que a palavra saudade é apenas um folguedo das minhas noites em claro. Escreveste que estarias aqui, todas as vezes que eu virasse as páginas do livro. De fato estás. Mas destas últimas doze vezes, imóvel. Em que esquina desencontramo-nos. Deixamos coisas demais por lá? Pelas estreitas vias de um passado recente? Não sou Drummond. Não és Cecília. Mas tenho os dois em um mesmo rascunho. Num pergaminho sacro que guardo com tanto carinho. Somos Forrest e Amèlie, andando depois do cinema, falando mal dos amigos. Criando questões sem resposta. Talvez não lembres dos ditos. Talvez não recordes do cheiro. Mas há sempre um registro esquecido. Um retrato roubado (e no nosso caso tenho muitos retratos doados). Não há como falar em retorno. Não se retorna nunca. Afinal as coisas acontecem a despeito de nossos quereres e, às vezes, de nossos atos mais desesperados. Continuo existindo em pedaços. Tem um enorme guardado nos confins do Mondego amado, esperando a urgência da fuga ou das ciências para subir à tona. Grandioso e melancólico como um sonho de amor. E sempre cheio de saudade - aquela dor que por vezes é a única que faz bem ao espírito. J.M.N

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