sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Excertos Terapêuticos

"Espalhou-se que estava morto, louco, sujo das lamas da rua, seus trapos fediam, sua cara era outra. Achavam que se o deviam chamar pelo nome da pior das bestas. Perdera a propriedade de ser gente. Grunhia. Enfezava-se por qualquer besteira. Qual o quê! Estava perdido da esperança. Prenderam-no num quarto escuro e perguntavam-lhe insistentemente qual sua maior culpa. Ele disse mil vezes: não a ter amado mais. Não ter sido menos meu. E viu-se diante do que fora incapaz de admitir. Não havia mudado em nada. Não fedia. Seu nome era comum e registrado em cartório. A prisão era um sonho recorrente. A culpa esta sim, alimentava-se dele e dele extirpou suas melhores horas. Não estava sob a mira de ninguém. Ninguém o perseguia. Quedou-se morto em si mesmo. Arrependido de não ter dado um último beijo, não ter sentido a respiração dela em uma última noite em claro. Voltara a um tempo de pouca ou nenhuma comunhão. Tempo antes do amor."

Cantídio - Livro das culpas perfeitas

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