quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Sem título

Tenho vontade de te enviar uma mensagem. Nada rebuscado ou poema. Essas mensagens que enviamos pelo celular agora. Apenas para se misturar aos teus contatos e às mensagens de serviço das operadoras que te convidam a gastar mais. Uma mensagem de uma ou duas linhas onde eu possa espremer toda a saudade e a raiva que sinto por ti; todo o sufoco e a literatura que foram precisos para que saísses de minha pele. Uma mensagem que coubesse esquecida em tua caixa postal. Teria o cuidado de não usar abreviações ou contrair as palavras e seus sons sinceros para não perder a chance de dizer entre as coisas rápidas que se diz em mensagens eletrônicas, que eu te amei imensamente, a despeito da razão que guiou meus atos. E te mandaria esta mensagem de noite. Num vão dos teus telefonemas finais do dia. Quem sabe estarias falando com teu pai, ou com teu novo amor que viaja a trabalho, ou com teus primos, ou com aquelas amigas chatas que peruavam a perguntar o tamanho daquilo, a profundeza disto e faziam vigorar entre seus venenos o preço das bolsas ridículas que compravam nas liquidações mensais. Um troço chato. Com uma ou duas linhas te faria lembrar, pois a mensagem teria a cifra para o olfato, a ligadura do sabor e, certamente, a cadência sedutora do que fomos. Era capaz de lamberes o aparelho, num ímpeto secreto que serviria de cena remontada: nosso fim amarrado às promessas de infinito – início e fim, início e fim. E a falta de esperanças que havia nisso. Passaria um dia compondo esta tua mensagem. E no final, depois de litros de vinho, lembranças tenebrosas, as hastes torcidas dos meus óculos de sol, seriam uma ou duas linhas sinceras, maduras, constantes como o rodar da Terra, como a expansão do universo. E cederias à vontade de responder obrigado. Sem complemento ou deixa, sem amanhã ou celebridade. Esse obrigado acróstico de onde eu tiraria significados vultosos, interpretaria os sinais e ignoraria feliz que se trataria apenas de um obrigado. Tua resposta à minha mensagem, teria a imensidão de um mar que não cruzei, teria o bege e os semitons modestos da casa velha em que morei noutro país, como o fundo da pintura que emoldurou nosso sonho. E seria a tua resposta à minha mensagem de uma ou duas linhas, a carta que espero na distância, o naco de concordância com o pertencimento silencioso de um amor que acabou. Amor cujo destino estampou-se no adeus, naquele mesmo dia em que disseste que eu nunca mais saberia de ti. J.M.N.

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