terça-feira, 14 de maio de 2013

Sobre o chão que não pisei

“Vine a Comala porque me dijeron que acá vivía mi padre,
un tal Pedro Páramo. Mi madre me lo dijo.
Y yo le prometí que vendría a verlo en cuanto ella muriera.
Le apreté sus manos en señal de que lo haría,
[…] no pude hacer otra cosa sino decirle que así lo haría,
y de tanto decírselo se lo seguí diciendo aun después de que a mis manos
les costó trabajo zafarse de sus manos muertas.”

Pedro Páramo – Juan Rulfo

Eu bem que podia ser o que diz vim aqui, pois queria conhecer meu pai. E estar na presença deste homem. Que me feriu e ainda fere. Que me trouxe consequências e recaiu sobre minhas paixões inúmeras vezes. Podia ler essa palavra curta e funda em qualquer parede cheia de apelidos revolucionários – e quem sabe tê-lo por companheiro, camarada, revolucionário. Seria, seu emprego, contra os desmandos, a violência, aquilo que escapou à sua geração e que chegou pesado sobre a minha, tardando as escolhas, macerando a coragem. Usaríamos os dois o mesmo apelido. À paisana poderia andar secreto entre os caminhos do meu filho, pesquisando suas amizades, antevendo os perigos depois de cada esquina. Mas escolhi deixa-lo fazendo a trilha, apaixonando-se pelo que encontrar no caminho. Na paisagem queria ver o pai estancado como que fotografado pela minha lembrança na melhor viagem que fiz em sua companhia. Paira no ar meu desejo sempre que penso no que não disse, na valentia que se engaveta. Vira uma espécie de dolo, ao que parece – querer me encontrar sem um guia. Alguma coisa não acontece. Minha barba por fazer, sugere o descuido que eu mereço exercer. Sem que a amizade seja uma obrigação. Sem que campainhas lhe soem preocupantes anunciando uma ou outra insuficiência minha. O nome veio e não o conheço por inteiro. Ainda falta ir e dizer o que ando deixando de lado. Por hora um gosto indeciso. Compaixão pelo que não me significa e que é necessário significar. Queria saber a hora de espairecer as ideias. Ser leve e comer devagar. Enquanto não posso, digo por ai que sou um escritor e que meu estilo não tem nada a ver com a tristeza. J.M.N.

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