quinta-feira, 18 de abril de 2013

Todos os nomes, toda essência

Qualquer nome te serve. Qualquer engradado te estoca. Posso te chamar aos gritos, te repetir como promessa, por vingança ou por crença na eternidade. És o maior suspeito pelos meus erros macabros. Mais ainda pelos meus acertos inteiros. Vens com lama pelo corpo. Límpido como quartzo esfumado. Vens. Alegre. Triste. Como um braço amputado que na canção padece com as fisgadas da saudade. Vens como o tempo que se uniu em minha inconsciência: ontem, hoje, amanhã e sempre. Linha junta no infinito. Fixo e enfocado como a imagem preferida de alguém. Trocado por uma carta alega distância ou medo. Covarde ou bravo. Em batalha ou calmaria surges e vens. Andando. Em berlindas. Sob o sol ultrajante dos desertos. Conquanto feliz por ser mais antigo que a antiguidade, fazes parte da primeira nuvem de poeira cósmica. Fazes parte da primeiríssima célula do mundo. Tantos te chamam de luto, melancolia, esforço sobre-humano de existência. Inalcançável te chamam outros e outras. Os esquecidos te chamam de qualquer coisa que podem levar à boca e matar um décimo da fome que os traga. Profuso, ostentando encouraçados, feito uma armada pronta para finalizar uma costa e matar todos com sua carga explosiva. Vieste desde antes de meu despertar. Vieste cheirar os restos da minha mãe sobre meu corpo logo após ela me dar à luz. Aquele misto de entes e entidades – surpresa e afeto – o só elemento que nos acomoda a todos pela primeira e última vez nas tenras horas de existência. Não dependo de ti. Mas me apresentaste a novidade da divisão, da partilha. E agora não chego a sozinho senão com esforço e faca. Eu que era só pra mim um naco de totalidade e pedra. Alguns te chamam de culpa, chamam desespero, dor que não cessa. A maior das alegrias, vivenda dos quereres e da entrega. Não sou eloquente. Não uso temas ou artigos indefinidos. Chamo-te pelo nome que aprendi ao lamber a solidão das descobertas e a quentura inquieta da carne fresca. Chamo como fosse um romance inteiro, tuas quatro letras amor. J.M.N.

Um comentário:

Anônimo disse...

Escrito com alma. Senti cada linha. Acariciei cada palavra. Estou tomada por ti.