segunda-feira, 1 de abril de 2013

O homem dentro do que digo

Olhai e cobiçai minha derrota. Imolaram-me
Tornardes dente da engrenagem que me destrói
E com o corrosivo abraço, uma cadeia cinza
Envolve-me mais uma vez nos teus quetais

Tendes à boca, a víbora peçonhenta do algures
Ser nenhum assina tua obra – és um fantasma
Que quando aparece, açoita o escravo em nós
Teu pó viceja como a zoada do abate – o morto

E o morto soçobra de teus passos, agilíssimos
Embora finados esses mesmos passos, vilão
Tu és a oposta força que me escarnece, és nada
Tendes a lei e a doutrina como irmãs, e eu, nada

E teus tratados não conversam como eu, livres
Dos atentados da soberba, das miragens gastas
Internado no futuro, sou o que jamais serás
Homem, morno e estúpido, a carne simples

Feito a guisa de liberdade.

J.M.N.

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