quarta-feira, 27 de maio de 2009

Diário da tua ausência II

27.05.09

Manhã cedinho. Coleto sangue para exames de rotina. A enfermeira brinca dizendo que nunca vira sangue mais vermelho. Respondo dizendo que, na verdade, é meu coração liquefeito. Sua risada dura apenas um segundo e ela percebe que falo sem alegria alguma. Talvez minhas células mostrem as coisas raras que a ciência chama de estudo de caso. De minha parte apenas a preocupação com um pulsar que parece vai diminuindo. Para além desse ritmo desacelerado, apenas as idéias intervalando meus sentidos como a redenção de tudo o que inventei para desfazer minha casa. No fim a enfermeira voltou-se para mim: isso passa! E colocou o curativo com um cuidado extra. Não fiz mais do que agradecer. Isso já passou, expliquei-me. E essa certeza liquefez meu coração. Amanhã, mais exames, vamos ver o que mais está se esvaindo de meus órgãos em agulhas e tubos de ensaio. Talvez fique o suficiente para contar a história de minha biologia, talvez tão bem analisado que te faça entender o que de confuso ficou indizível.J.M.N

P.S. não pude deixar de pensar nesta música, quando entrei no carro e senti-me só o resto do caminho.

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