Detesto despedidas.
A coisa toda.
Bater portas.
Dar adeus.
Acenar.
Olhar perdido.
A merda toda.
Detesto.
Detesto a sensação de vazio depois que a gente diz o adeus.
Detesto também a sensação de completude quando a gente diz adeus —
a completude do que acabou,
do que se fez e se gastou até às cinzas.
A ruptura do existir, a trégua dura do beco sem saída.
Detesto despedidas.
Detesto o ar que roda nos pulmões
depois que a gente solta o ponto final
na equação da vida,
na tábua das relações.
O peito partido, centelha e espiral.
Detesto.
Acho muito pouco simplesmente dizer adeus.
Às vezes é preciso estragar,
concluir tudo com muita antecipação,
derrubar castelos,
implodir estruturas.
Feio.
Necessário.
Antecipadamente finito.
Mas é penoso demais,
desgastante até a alma,
ter que se despedir.
Na festa, trinta pessoas te param pra dizer adeus.
Quando a gente viaja,
pessoas acenam e choram,
e a janela do avião vira aquele buraquinho,
meu Deus, aquele buraco
onde a gente vai vendo as pessoas cada vez mais distantes,
a nossa terra mais distante,
as raízes da gente,
como se à deriva de um esquecimento inútil, pérfido. Suave apenas de desespero.
Detesto despedidas.
O fim das coisas.
O deixar de ser.
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