quarta-feira, 30 de julho de 2025

Detesto despedidas

Detesto despedidas.

A coisa toda.

Bater portas.

Dar adeus.

Acenar.

Olhar perdido.

A merda toda.

Detesto.


Detesto a sensação de vazio depois que a gente diz o adeus.

Detesto também a sensação de completude quando a gente diz adeus —

a completude do que acabou,

do que se fez e se gastou até às cinzas.

A ruptura do existir, a trégua dura do beco sem saída.

Detesto despedidas.


Detesto o ar que roda nos pulmões

depois que a gente solta o ponto final

na equação da vida,

na tábua das relações.

O peito partido, centelha e espiral.

Detesto.


Acho muito pouco simplesmente dizer adeus.

Às vezes é preciso estragar,

concluir tudo com muita antecipação,

derrubar castelos,

implodir estruturas.

Feio.

Necessário.

Antecipadamente finito.


Mas é penoso demais,

desgastante até a alma,

ter que se despedir.


Na festa, trinta pessoas te param pra dizer adeus.

Quando a gente viaja,

pessoas acenam e choram,

e a janela do avião vira aquele buraquinho,

meu Deus, aquele buraco


onde a gente vai vendo as pessoas cada vez mais distantes,

a nossa terra mais distante,

as raízes da gente,

como se à deriva de um esquecimento inútil, pérfido. Suave apenas de desespero.


Detesto despedidas.

O fim das coisas.

O deixar de ser.