quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Notas sobre um certo tipo de amor I

O amor me beijou e teve desde muito cedo. Não ficou em tantas ocasiões. Não me deixou em tantas outras. Como um suor, uma carcaça, acomodou-se sobre a pele e ora regula e tempera, ora me pesa e impede os passos. Olho-o como fosse o ponto fino no fundo de binóculo ao contrário. Que de tão perto, mais parece um ponto cardinal na distância do horizonte. O amor sabe a gerânios. E sabe igualmente a espinhos sobre minha pele. Perfaz minhas saudades, atina minhas faltas. Encobre minhas distâncias e ao mesmo tempo as denuncia. O amor tem a chave para minha tristeza e a ama com a febre de um primeiro. Deixa marcas, mete facas e transmuta felicidade em espera, beleza em traste. O amor que me acolhe é completo. Como os deuses pagãos de antigamente. Cuja bondade tanto ampliava quanto mordia. E aos mortais, feridos, esperando ir, só restava amar.

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