terça-feira, 11 de junho de 2013

O ausente à espera

Agora é só esperar que ela venha. Trazendo nada menos que as peras de Lion e sua interminável irreverência sobre as merdas que o Wood Allen escreve. Sambinha no mp3 player e as conseqüências de uma puta dor de barriga. Ela finge estar inteira e eu rio da minha quilometragem. Vamos nascendo. Quando chegou só dei por ela depois de quinze dias, tão natural que ela me faz parte e seu lambido é o mesmo que a chuva do meu verde domínio. E percebo feliz que a pele dela me ensopa, que as unhas dela me arranham e que a comida que eu detestei, na verdade, era a boca dela se deliciando sobre a minha, uma mistura doida. Fertilizante. Isso é que somos. Saem plantas de dentro da gente depois dos meses, saem frutas. Tulipas, papoulas e calêndulas. Adoro dizer esses nomes. Todos a representam. E passo a escrever idiota sobre o silêncio que fere, sobre a gaze do meu curativo que escapa. Furo meus calos. Adoro os prazeres matinas de tê-la entre meus dentes. Carnívoros e amáveis, como só dementes podíamos ser. A sintaxe me falha. O verbo zera todas as ações e eu me fluido. Vou sangrando das dores dela, entre parênteses. Escrever assim só a quem sente. Escrever como se sente só a quem a dor prestou serviços. Não fosse ela minha retaguarda estava fodida. Meu dorso, meu tempo minha negra orixá, morreriam. Mas ela presente, sento como um rei. Namoro a pálida constituição dos avessos de maneira infinita. O que sai? Essas letras. Anátemas do pouco que tenho, do muito que a vida já me deu entre seus beijos. E fico simples. Passável. Instrumento para qualquer coisa que não tenha peso ou sentido ou mesmo, sequer, signifique algo nas palavras dos homens. J.M.N.

Um comentário:

Eliz Rosana disse...

Simplesmente delirante...me faz lembrar Carlos Ruiz Zafon em seus livros maravilhosos!