quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Não fosse

Não fosse eu ter sonhado aquele tempo, não o teríamos
Não fossem meus primeiros passos, não darias os teus mesmo me seguindo
Não fosse a canção no escuro que dispersou teu medo, não dormirias
Não fosse eu, colado ao pé da cama enquanto tremias de febre, não estarias mais aqui
Não fosse eu ter sonhado o que não terias, ganhavas mais tempo
Não fossem teus passos prisioneiros, os meus não acampariam nos sonhos
Não fosse teu dormir mais que sossegado, não teria eu o medo de cantar no escuro
Não fosse teres estado aqui, a febre de viver colado não passaria, seguiria
Não tendo teus passos bem juntos, dei os meus passos sozinhos, pela primeira vez
Não dormisses sempre ao pé dos sonhos, cantar-te-ia mais o que me cantavam os meus
Não fosse ter sarado nosso tempo, ainda estaria colado, ao pé da cama, em silêncio
Esperando ter as respostas que nunca viriam

J.M.N.

4 comentários:

Anônimo disse...

Amanheci em cólera. Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece. E nem ao menos posso fazer o que uma menina semiparalítica fez em vingança: quebrar um jarro. Não sou semiparalítica. Embora alguma coisa em mim diga que somos todos semiparalíticos. E morre-se, sem ao menos uma explicação. E o pior- vive-se, sem ao menos uma explicação (DIES IRAE. Clarice Lispector.

Anônimo disse...

Viver. Escrever. É deixar-se afetar e renunciar a tudo entender.
Cabe sempre um pouco de mim em seus textos!

Anônimo disse...

Concluindo: há pessoas que se compõem de atos, ruídos, retratos.

Outras de palavras.

Poetas e tontos se compõem com palavras.

Manoel de Barros. Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2010, p. 263.

Com carinho,

Maria.

Anônimo disse...

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