sexta-feira, 23 de maio de 2025

Punhal de Sonhos

Hoje senti saudades de ti. Coisa rara em meio à seriedade da mimja vida de agora. Sentei e desandei os afazeres como antes. Como quando chegavas e me apanhavas na Sé Velha para andarmos de carro ouvindo músicas e as notas políticas de ocasião. Vivíamos enfurnados um no outro. A dor macia da escravidão do desejo. Muito além de Passargada, dentro do frio irreversível das ilhas Aleutas, imensidade e fim. Senti esse miasma entre nossas memórias. Os cafés que frequentamos. Os presentes que trocamos. Coimbra no frio de janeiro e casacos de lã. Ficávamos sentados na poltrona velha a escutar una notte a Napoli vezes sem fim. É acolhedor esse ardor do passado. Dá de novo as fomes de verbo e pele. À moda de esperança, vou à janela. Na rua deserta, nossos passos grafados em um visco luminescente. Ando até o fim da trilha. A riqueza de um tempo em estivemos perdidos um no outro, que líamos poesia e leis dinamarquesas, interessavamo-nos pelo signo perdido da fraternidade e pelas possibilidade de filhos transnacionais. Inconsequentemente, como sofistas, argumentado vazios belíssimos e lambendo as feridas à vista. Eu, a tua necessidade de atenção e périplo. E tu, a minha infinita fome de doação e desatino. JMN

Para ler escutando...