quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Mulher parada mirando o mar (da série “nomes de pinturas”)

Quando viu o braço de mar enchendo fechou os olhos e imaginou que aquela era uma enchente de coisas boas que chegaria até ela. Mais uma vez.

O vento ajudava com a impressão de estar recebendo algo, vindo de um lugar qualquer e que, ainda por cima, mexia com os mínimos lugares de sua pele branca.

Assim, aquela manhã de setembro se lambia de um mar enchendo, escondendo a areia e as dores dela. Deixando a calma de estar em si, e apenas.

De onde ela estava o olhar alcançava três países. Horizontes que habitavam os sonhos de quem a mirava, muito mais que os dela.

Sentiu o domo da noite inflando sobre si. E na mesma posição recebeu a dádiva da tranquilidade noturna, do som das ondas dormentes.

Seu brilho era menor, mas sua presença estava agora acompanhada de pessoas se amando. Todos ao pé de seu corpo, espreitando a vida emocionante dos beijos.

Aliás, muito de seus dias eram assim. Ventosos, de mares se abrindo e fechando e noites nascendo e morrendo sob a eternidade de sua presença e as bocas aliciantes dos amados.

A estatua da mulher desconhecida, em mármore talhada e perfeita, no topo de uma serra d’água, no continente onde tudo começou é essa mansidão de história e significados que pertence ao tempo todos os dias. J.M.N.

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