quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Por não te ver

Não te vejo nas cinzas espalhadas na mesa. Não estás deitada em meu sofá. As coisas que ouço ao teu respeito são mais ilusões auditivas que realidade. Ouço-me, portanto, a dizer coisas sobre ti. Coisas que nem sempre são boas. É esta ausência. Sentido aludido quando não estás, porque não sei nada de fato sobre ti. Invento. Inventas-te ao longo do nada que sei. Em razão de não estares, crio um tempo instrutivo, minutos e horas de informação e verdade. Vão passando a me dizer que te quero, que não devia ter partido. São meus instrumentos de saber e punição. Descubro-me entre as palavras de Pedro Paixão, entre as fotos que tiramos desde o mirante de Santa Clara onde fiquei. Sim, foi lá que me perdi. Meio homem, meio bicho. Impulsivo a desbridar teus lábios, tuas vergonhas, tuas defesas. Por não te ver eu pinto corais com tuas tintas. O mar entre nós é um braço do rio de minha terra. Vou aos nados se precisar. Senão desatraco tua jangada e peço-te, pela última vez, para ficares perdida por minha causa e alegarei nada menos que amor e brevidade, natureza e quietude. Enfim, tudo do que foram feitas nossas noites e as inúmeras tardes que defendemos lado a lado nosso silêncio comum. J.M.N.

 

Um comentário:

Anônimo disse...

E P. Paixão dir-te-ia:
"Queres saber quem sou? Eu sou o que te olha e espia para te recolher e depois guardar num lugar que é só meu. Para isso serve o papel. O resto não precisas saber. Nem convém. Só te ia distrair, podes crer. Eu sou o que mergulha as mãos na tua vida para sentir a minha a voltar."
(Muito, Meu Amor)