quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Anotações às margens do romance II

Nada explica essa falta. Nem mesmo a presença, o tempo transcorrido em dobro. Começo o dia de cabeça baixa, chamando atenção de ninguém. O espelho espera. O café sequencia meu abandono, sua fumaça fina e perfumada atraindo apenas quem não possui alimentos. Ao cabo de uns minutos a sensação perigosa da eternidade. Viver para sempre seguindo apenas o tempo. Um horror impensável. Nada explica esse momento de eternidade e instantânea agonia que se encontram ao mero sussurro do teu nome. Alguma coisa muda. Insignificante. É minha alegria debruçada na imagem finíssima do teu sorriso, no balanço dos teus cabelos. Onde andarás agora que nunca nos encontramos que a propriedade de tuas partículas é igual àquela teoria dificílima que diz ser possível um elétron passar por dois lugares ao mesmo tempo, desde que não estejamos olhando. Mas meus olhos estão tão abertos e voltados para o outro lado. Por que então não sinto sequer a tua presença? Me vem uma música e a última linha da peça de teatro que escrevo desde que foste embora: o amor é feito de pequenos atos e de pequenas palavras – amor, dor, sempre, frio, manhã e fim. Não queria ter escrito isso. Mas a música levou o crédito – When we woke up that morning/ we had no way of knowing. E sem saber começamos o dia. E sem o dia saber, foi o nosso último. J.M.N.

2 comentários:

Anônimo disse...

Why won't you let me go?

Anônimo disse...

A vida é o lugar da resistência poeta.