domingo, 27 de abril de 2008

Os meus motivos

Porque já não há escombros, nem verdades inventadas. Já não há dívidas ou mensagens de amor. Não existem pedidos, ou ajudas com os botões do vestido. Sem paletós alinhados. Meus medos e os teus unidos. Não há quase nada para lembrar. Nem os domingos de sol, quando ir passear no parque era apenas mais um motivo para ficarmos aflitos, eu com tua demora e tu com meus erros de caminho. Não existem abraços, porque os braços definharam. Não há estrada, porque não existe lugar para chegar. Uma casa ou um muro alto. Não há vertigens. Mãos abanando despedidas pelos vidros do aeroporto, nem aquilo das partidas. Não há malícia. Dor. Cansaço. Não há sequer o espaço dos livros e as reconquistas nervosas depois de uma semana distantes. Por Deus, não há culpas. Não há hóstias. Meus olhos ou os teus. Minhas mãos e preces, sequer. Eu era um adito. Tu, tampouco, salvavas-te. Não há razão para isto. Vendo bem, não há razão para nada. Por isso eu levanto e amanheço com essas palavras enterradas tão fundo, que nem sequer as reconheço como sendo minhas. Não há mais nada por trás desses gritos, apenas uma voz estéril que altissonante, insiste em te dar explicações. J.M.N

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