Ela se encantou pois ele dizia seu afeto em línguas estrangeiras, sempre com uma das mãos em lugares diferentes de seu corpo. Riu-se sozinha, muitas vezes, por ter percebido a intimidade instantânea que se instalara entre eles. Ela sempre cuidara muito bem da distância e chocou-se ao saber que ele a encantava com tão poucas palavras e beijos intensamente planejados. Nunca haveria de saber as suas razões para o fim, mas afinal, causou-lhe espanto que a noite escolhida tenha sido justamente aquela em que ela diria eu te amo. Ficou aguardando na sala. As pernas balançavam para lá e para cá. Depois de muito tempo, lembrou que o vinho ainda estava na pia, com água pelo gargalo. Tirou. Voltou à sala. Esperou e esperou. Quando ele chegou as coisas aconteceram muito rápido. Eu tenho uma coisa para conversar com você/eu também… Fala você/fala você. Depois dele ter dito tudo nublou. Ainda com a porta aberta ela completou sua frase e a noite arrebentou em seus olhos azuis como o pior manto noturno que jamais existiria. E chorou ao som das lembranças auditivas e dos encantamentos em línguas de além mar. Jamais saberia se ele dizia a verdade, mas isso já não importava. J.M.N