Amo o estado de coisas de agora mesmo. Esse presente suntuoso e enaltecido em quando me encontro. E não aceito que me digam O amor morre entre duas pessoas. Esse amor que não pretende rever o mundo, mas antes e apenas, ao corpo que naufraga em suas horas. Amor de apreciar-se sem delírios enquanto quem se ama sai do banho com a pele lambida de água e cuidados. Esse amor não é o de um Cruzado, tampouco a paixão estropiada pelo encaixe, pelo enquadramento do outro. Amor de afazeres e dedicação.
Fui vencido na entrada. Quando vi meu relógio marcando as horas, meus quinze anos, tive um coice. Era de antever: a promessa que me fiz sobre ser de alguém até que esse alguém me fosse tudo não sobreviveu ao primeiro e grande amor. Mesmo alertado, tendo visto os finalmentes daquela crença natimorta eu avancei. Passo a passo no terreno que antes de eu nascer desertificava. Tinha de ser um amor escancarado. Nascido obeso e cativante. Como uma grande porção de carne ao animal esfomeado.
Assim foi que sai pelas portas do fundo. Envergonhado. Pendente de dizer tantas coisas que me encurtaram, davam-me cancro e enjoos poderosos. Sai culpado por mais uma vez não conseguir me encaixar. Como fosse essa condição uma monstruosidade.
Quero menos ainda hoje um amor universal e bem podado. Atestado por todos e vinculado à perfeição dos estilos desse povo. Quero unicamente a disposição para tornar meu corpo amado, um elemento de bem estar, território de fazer abundante e encharcado.
Talvez eu volte a conversar com o Deus da minha infância, do colégio das irmãs que primeiro tentaram me demover da ideia de ser eu. Voltarei a ver o que não tem rosto habitar-me o espelho e sem vergonha pedirei a ele que realize meus desejos. Meus desejos do corpo. A única fronteira que me conclui livremente. Abordado por prismas da luz alheia, mas apenas. Hei de ver aquele Deus perdido, jogando cartas, despreocupado, num dia qualquer desse ano ainda. J.M.N.
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