ao nº 939 da Av. Alcindo Cacela, em Belém do Pará.
Por tudo que me foi, por ter sido meu verdadeiro teto,
a casa de toda minha lembrança, criadouro dos séculos
passados em que faço questão de viver, dentro dos quais
descobri meus verdadeiros segredos.
Sob todas as coisas esse dito é triste. Debaixo do andor esquecido, onde santos esperam vozes e a passadeira deixa a roupa mofar é que nasce. Embaixo da mesa da sala de jantar, onde se escondiam carrinhos, bonecos e o segredo de não querer crescer jamais é que viceja. É sob essa madeira da mesa que jaz também o que esse dito não irá alegrar.
Anda que eles já vêm te pegar. Era isso, ele tinha cumprido bem o afastamento compulsório. Todos divertidos e sua alegria, terminado. Adeus aos jogos de memória, às respostas cheias de amor e dádiva da avó. Universo inteiro em um único fim de semana. Deveriam ser mil dias.
O paço se fecha e a memória é apenas mais uma dor de cabeça depois do trabalho. O antes do sono uma turbulência. Ele entra no carro. Com roupas de baixo e uma calça bem frouxa para o caso de algum guarda noturno questionar seus pudores. Chega à avenida. Olha bem para aquela casa. Ninguém acena. Ninguém mais varre a garagem de madrugada. Uma luz que cospe de vez em quando um feixe. Ele se promete tê-la de volta, mas é algo tão distante.
A cidade e suas coisas acontecem indiferentes e ele se cansa. Vê pelo retrovisor um antigo vizinho. A barba branca do homem recolhe seu choro. Aonde ir se nenhum canto daqui dá mais abrigo? Como existir sem drama, se não há mis um refúgio sequer?
De tanto perguntar o mesmo, despede-se. Da avenida. Da casa. Da zona líquida que se lhe tinha toda saudade. Volta pra casa, assoberbado de ideias e escreve seu único vício: falar de tudo o que ninguém mais que ouvir. Seja pela dor, seja pela distância dos sentidos. J.M.N.
Um comentário:
Viva o poeta narrador de si!
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