Esse cheiro que come doce o tanto passado. Com lábios mornos e cânticos e gêneros. Esse cheiro vigoroso que se emite quando amado. Esse cheiro de terra semeada. Dentro dessa solubilidade que distrai as dores, mora teu cheiro. Esse frescor de dias e noites sem espera, antes presença. Sem gaiolas ou vergonhas, e tais miudezas. Esse elemento que assegura sem forma ou peso minha alegria e que elege para sua reforma meus dissabores. Esse coquetel de intimidade e denúncia, de amanhecer e horizontes que é o que sinto todas as vezes que estás presente – é teu cheiro. Que de tudo quanto existe capta a bolha recolhe a química e de tanta mistura é indescritível, inseparável. Me toma os retículos, os canais nervosos, me entorta a fala, me traz poemas. Sou de novo aquele um sentado diante do palco, a ação correndo. De mãos indóceis esperando que acabe tua aparição para te ter. Sinto-te antes dos teus passos corridos, antes muito antes de todos te dizerem. Sou mais uma vez aquele menino que abria panelas para inventar comidas e que sugava das rosas o botão grená, com língua e olfato. E me sinto assim porque me cheiras à profunda alma que antes já foi minha e que agora resolveu deixar de lado o mau cheiro daquela saudade. J.M.N.
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