“De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!
Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa! [...]”
A ideia – Augusto dos Anjos (do Livro EU, 1912)
Ela alçava voos. A boca dura, os dentes tesos. Fundida ao meu espelho mais confuso; presa do meu melhor exercício de captura.
O fundo de seu olho aumentava-se em si. Era dona de uma eternidade química ultrapotente. Encantadora.
Abria as pernas, oferecida.
Obrigava-me a pegar no tranco, combalido, mesmo que estivesse, pelo teto que caia sobre a gente.
E me arranhava e visitava meus músculos com a pertinácia de um cirurgião muito destro, uma perita.
Eu me vingava adiando o gozo.
Não porque quisesse, mas por impossibilidade física.
Minha vendeta era mentira, era meu corpo funcionando além de mim, afinal.
Verificava sua latência por todos os orifícios.
Acomodava minha violência em movimentos de fuga dentro dela. Fora de mim.
Era possível salivar de tão demente.
E de tão ferino que eu brotava a exaustão se ia com medo.
Não havia tempo ou desejo por pausas, comidinhas que fossem.
Era, em suma, a besta ou fosse lá que deformidade me consumindo.
Não era dentro de mim que estava aquela experiência.
Não em meu nada absoluto, ao menos; meu Deus falira em se deixar encontrar naquela fleuma. Talvez por pena, talvez por castigo.
Pois quando perguntava se era possível, tinha silêncio.
E quando explodia em ferocidade e elementos, seguia-se sempre o questionamento: o que vai ser de mim? J.M.N.
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