Quem sou eu que
dispensas depois das duas da manhã?
A pergunta nasce a
despeito da semântica.
Perdido!
Como se fosse o único
andarilho da noite depois do silêncio do corpo.
Não faz frio, mas a
espinha curva e os pelos se enervam cobrando amenidades que não vêm.
E a pergunta volta entre
os dentes: que faço agora?
Como seguir depois da
descoberta?
Não sei que sou; não
sabes também. E agora a madrugada tampouco me entende.
Sou esse corpo se
esforçando pelo caminho dos gatunos. Entretanto, roubo nada mais que a luz dos
postes. Vou me esgueirando, rótulas doídas. Nossos movimentos ainda reclamam
minha memória. Meio tonto, só penso em despertar.
Ao que parece fiquei
nas profundezas de um sonho.
Quase manhã.
As janelas em volta
começam a abrir.
Eu caminhando.
Baratinado pelo
esforço de descobrir como fizeste isso – de eu não saber quem sou. E tenho essa
ideia bárbara de voltar e pressionar tua garganta para que cedas, para que
morras, quem sabe.
A punição pelo
pensamento é uma saudade exclusiva suscitada em mim quando me deixaste estupefato
ao me mandar embora.
Minhas tatuagens se
contorcem e escrevem em minha pele o que não ouso dizer: teu nome, a vontade, a
intolerância aos limites. E então eu volto. Por todo o caminho recém-desperto
pelo sol.
As pessoas batem
tapetes, conversam umas com as outras, atiram seus lixos no meio da rua.
Nada me atinge.
Resoluto, bato em tua
porta. Outra pessoa abre. Uma mulher que recende a cigarro. Logo atrás seu
companheiro me pergunta o que quero. Chamo teu nome. Mas a porta se fecha antes
de ouvir qualquer resposta.
O endereço confere, a
cor da porta, os enfeites no corredor do prédio e até o porteiro tem uma cara
conhecida.
Perto do meio dia
ainda busco uma resposta.
E depois de dois dias
seguidos, resolvo acreditar que o frio que apenas eu sentia ao sair da tua casa
naquela noite, consumiu alguma coisa secreta em mim. E me tirou umas horas da
verdade que encontrei contigo aquela noite, deixando esta sensação estranha de
que nenhum outro lugar do mundo me receberá tão bem como o teu abraço. J.M.N.
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