sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Reflexão


Retorno do exílio. Menos anjo ou bandido. Menos certo sobre ter e querer. O ser é quem propõe se reconciliar. Atenderei ao pedido. Antes, porém, uma última joça, um derradeiro assassínio. Na ponta da faca extermino a rudeza, a impropriedade de chamar ao outro, canalha. Dirijam a mim as palavras malditas, as vespas da morte. E, sobrando coragem, atirem a bosta dos estábulos em meu rosto claro, dado sem pudor ao que corre nestes dias. A vida não deve ser entre cortinas. Digam, mas digam rosnando. Furiosos de estar em presença de quem apenas escolheu receber-lhes. Quero ser concebido sem pecado e para isso, o auto-perdão, uns petardos e a revolução radical do amor ululante, do abraço ao demente, reconhecendo-lhe a igualdade afirmando em contrato que mesmo se decidirem abrandar seus nomes, não se rasgará a liberdade que apenas este – o louco, o outro, o lobo em todos nós – olhando nos olhos do mundo, demonstra razão e músculo para duvidar de mim, de ti e de toda e qualquer imagem. Volto não do deserto ou do silêncio. Volto de onde me disseram que eu era igual – um estúpido pedaço de carne e tempo que ainda teima acreditar em si mesmo. J.M.N.

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