Desaprendi a escrever de urgência, sob uma tonelada de coisas
que não podia carregar, mas acumulava como bom demente. Agora as palavras
seguem seu rumo açoitando devagar os meus segredos. Descerrando as cortinas
quando a cena é demais imprópria. E fico sentindo falta da atrocidade, do
elemento em sangue que me mantinha atento, retesado sobre minhas covardias,
sempre seguindo, sempre avançando. O horizonte era a minha porta de casa. Semente
e paço de tantas coisas. Para fora, a alegria do desconhecido deflorado todos
os dias por minha coragem – imprudência delegada por ancestrais. Para dentro a
recolha de tudo quanto era abandono, de todas as alterações de beleza e
vulgaridades da rua. Punha em prateleiras. Meus troféus enfeitiçados. Hoje o
que me escapa é sem químicas ou vergonhas. É sem pudor e sem freio. Da mesma
maneira irrequieto e deslizante, alqueires esquadrinhados. Abro a porta de casa
e a cidade de qualquer um pode passar. Vivo cheio de almas que me perguntam as
mesmas perguntas que eram minhas anteontem. Não sei como chamar essas linhas.
Nem mesmo sei se precisam de um nome. O meu, aprendi sozinho, é bem comum.
Algumas vezes cai na boca de estranhos, lentamente é conhecido em algumas redes.
Fatalmente cairá no esquecimento. Mas hoje, quando chamado, responde a tudo o
que tenho guardado em corpo e cicatriz. J.M.N.
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