domingo, 10 de junho de 2012

Bö Dohida

 

Amo em ti essa festa que fazes ao acordar, como se o sono fosse uma jornada para a fora da vida, e vivesses a celebrar o teu retorno incontáveis vezes ao dia. Eu faço morada em frente à nudez do teu sorriso, pois diante dele não há tempo, só memória. Essa tua risada me devolve o dia em que meu irmão me levou pra conhecer o centro; me transporta à quietude de um lago em Minas; me embala nos colos de mil avós.

Amo essas imanências lácteas que se desprendem das tuas dobras quando te pões em movimentos descoordenados à busca do teu alimento. Amo te ver interrompendo o banquete pra usares a linguagem primeva dos homens. Balbuciando vais dando notícias do teu mundo e sentido pra vida dos que esperam pacientes os teus dentes nasceram, teus cabelos crescerem, os teus ossos se fortalecerem e a tua cabeça se fechar.

Amo ter certeza que eu não tenho dons de Abraão. Que não ouço vozes divinas e que não cederia aos caprichos de qualquer deus que me exigisse ficar longe de ti. O meu lugar é aqui, na órbita da tua respiração. Guardião dos teus panos e dos teus segredos. Balançador de redes. Palhaço e malabarista de um só expectador. O meu lugar aqui, e te amar me faz ter raízes onde pousares os teus pezinhos. WDC

Um comentário:

Anônimo disse...

Belíssimo texto! Bem-aventurados os amparados em colos fraternos.